"Me despido de la tierra de la alegría" de Ruy Belo

ME DESPIDO DE LA TIERRA DE LA ALEGRÍA, Ruy Belo. Traducción de Pablo Sheng. Los poemas presentados corresponden al primer capítulo de Despeço-me da terra da alegria (Rio de Janeiro, 7 Letras, 2014), libro que se publicó en 1978, un año después de la muerte de Ruy Belo.

Os balcões sucessivos sobre o rio

Os balcões sucessivos sobre o rio
as tesouras de poda nas roseiras
a sonolência lânguida e perversa
esse todo coerente e sobre ele apenas
a abóbada da minha perfeição
é esse o meu convite à desistência
a pena menos pública do mundo nos
lagos das finas flores dos sabugueiros
onde a mulher soltava os cabelos
pra que neles se prendesse o cheiro a erva
Ela tinha um aspecto inesperado
vinha com o vestido cor magenta nos
braços que lhe cresceram sobre a terra
movia-se ao andar como uma barca
Importa-me é o curso do dia e da noite
Vou andar um bocado nos caminhos
é pela hora em que não há ninguém
nudez desprevenida dos meus dias
mas só de noite desço até ao mar após
as sete horas da tarde hora crepuscular
os cheiros confortáveis e antigos
imagens dum lirismo fraudulento
um conforto algum tanto apreensivo
coisas que desde a infância a construíam
Mudo de opinião continuamente
espero o teu regresso pela tarde
e cuidadosamente velo a minha cólera
A vida é para mim pesar de pálpebras
leitura de discursos no outono
na casa abandonada e submetida à chuva
Regresso afinal aos próprios hábitos
sorrisos de mulheres sobre a areia
sou fiel à tristeza e pouco mais
e meto então um lenço num dos bolsos
que cheira ao perfume dos pinheiros
Ave de alarme sou deixem-me só
sou um contemporâneo assisto a tudo
os sinos vesperais nos dias de verão
o cão que passa numa encruzilhada
um cântaro que racha inexplicavelmente
confundido no hálito do mar
a minha saudação aos infantes do medo
crianças que iniciam o andar
Espero por alguém espero pelo sol
pla doçura estival da laranjeira
ando pelos caminhos muito tempo
e passo pelas portas devassadas pelos ventos
em cujos gonzos sopram agonias
E espero de novo a floração da primavera
Não quero nada quero estar presente sobre
as dunas do começo dos pinhais
nesse mundo de medos e animais
onde abri os meus olhos para a luz de agora
E perco todo eu em contriçães
ó terra branca e carnal e triste
as minhas madrugadas do sargaço
abertas nos bocejos da neblina
quando o tempo é suave e chega em dunas
à sensibilidade das narinas
nas horas generosas da maré
los balcones sucesivos sobre el río

Los balcones sucesivos sobre el río
las tijeras de poda en los rosales
la somnolencia lánguida y perversa
es todo coherente y sobre él apenas
la bóveda de mi perfección
es ese mi llamado a la renuncia
la pena menos pública del mundo en los
lagos de finas flores de los arbustos
donde la mujer se soltaba los cabellos
para encender el olor del pasto
Ella tenía un aspecto casual
con un vestido color magenta en los
brazos que le crecieron sobre la tierra
se movía al caminar como una barca
Me toca el curso del día y la noche
Voy a caminar un poco en los caminos
a la hora en que no hay nadie
la desnudez imprevista de mis días
pero solo de noche se descubre hasta el mar después
de las siete de la tarde hora crepuscular
los olores reconfortantes y antiguos
imágenes de un lirismo fraudulento
un confort algo aprehensivo
cosas que desde la infancia lo construían
Cambio de opinión continuamente
espero tu regreso por la tarde
y cuidadoso velo mi cólera
La vida es para mí un pesar de párpados
la lectura de los discursos en otoño
en la casa abandonada sometida a la lluvia
Regreso al final a mis hábitos
sonrisas de mujeres sobre arena
soy fiel a la tristeza y poco más luego
un pañuelo en uno de los bolsillos
que huele al perfume de los pinares
Ave de alarma me dejan solo
soy un contemporáneo voy a las campanas
vespertinas en los días de verano
el perro que pasa en un cruce
un cántaro que se agrieta inexplicable
confundido con el mar y su vapor
mi saludo a los infantes del miedo
niños que aprenden a caminar
Espero a alguien espero al sol
la dulzura estival del naranjo
ando mucho rato por los caminos
y paso por las puertas asoladas vientos
en cuyas bisagras sopla agonía
Y espero de nuevo el florecer de la primavera
No quiero nada quiero estar presente sobre
las dunas del principio de los pinos
en este mundo de miedos y animales
abrí mis ojos a la luz de ahora
Y pierdo todo en contriciones
tierra blanca y carnal triste
madrugadas de algas
abiertas en los bostezos de niebla
cuando el tiempo es suave y llega en las dunas
a la sensibilidad de las narinas
en las horas generosas de la marea
*
despeço-me da terra da alegria

Os pássaros da noite povoavam
as tílias desta minha solidão
O juízo severo dos seus olhos
de olhar onde cabia o pensamento
a luz e a sombra de uma geração
precariamente iluminavam uma alma
que punha a salvação no mais profundo sono
Um castanheiro filho descuidado do meio-dia
de uma ramagem lenta e ondulante
sorria com sorrisos litorais
em um jardim em flor do meu desejo
Homenageio aquela primavera
primeira primavera da amizade
Tudo era pensamento para ele mesmo até
caminhos que não levam a qualquer
parte sabida ou sequer desconhecida
Belo país da arte eu te saúdo
as imagens levantam-se no ar
e um mundo litúrgico somente imaginado repovoa
as sendas dos amantes verdadeiros
onde as palavras só vinham depois
Põe só a tua mão perto de mim sob os
lobos de pedra em cada capitel
Oceanos de olvido na memória
esse país longínquo donde venho
nuvem de vida sobre a minha morte
Apaga o tempo de uma má reputação
anos de inquietação de espanto de vergonha
estrela da minha infância ergue-te de novo
tu que eras para mim o sol a lua
deslumbrante manhã da existência
País onde me leva o meu apelo
sonhos de dia sonhos de mulher
o gosto do açúcar e do sal
uns olhares de sombra e de mistério
o sentido e o símbolo dos sonhos
Os peixes negros e dourados das recordações
olhos brilhantes de animais desconhecidos
pequeníssimas flores da memória
relâmpago dourado do olhar
Os cheiros acres das redondas cavidades
alguma boca de ouro de onde voam as palavras
animadas figuras do meu sonho
abismo de ameaças nalguns olhos
regiões insondáveis e inacessíveis
o espanto provocado pelo crime
libertação total e harmonia
a superfície lúcida dos sonhos
os rostos múltiplos trazidos num momento
palavras luminosas para mim
O que dirá de mim o castanheiro do outono
a estação do que passa e se desfaz
Esqueci a minha infância e não sei nada
Estou à sombra e espero alguém virá
sombria melodia do meio-dia
o perfume dos campos cavalgados
na quente luz do dia em que eu vivia
Alguém me chegará desse distante bosque
onde eu errei a minha juventude
nas formas levemente tacteadas pelos dedos
Não me demoro ou moro em sítio algum
já nada significam as palavras
neste deserto onde vigilo e estou desperto
terrivelmente só dentro da noite. Ali
no silêncio profundo da floresta ao
teu singular olor de singular mulher
crucifiquei a minha juventude
A vida tem aspectos criminosos como
a subida da chama silenciosa
na haste da mulher que se procure
Não há nenhum regresso nos meus passos
a lua era outra lua de hora a hora
a natureza espera-me faz-me sofrer
troncos incendiados no outono
depois adormecidos no inverno
o aspecto humano de uma terra cultivada
Melodia da voz que abre os corações
pássaro disparado pelos ares
a gratidão que segue a solidão
tudo aquilo era belo e era bom
sabia a alimentos e a paz
a homens a calor a infância e lar
Ela trazia amor nas suas mãos
Sorri sofri a noite era já negra
o amor é coisa débil fugitiva
onde não cabem coisas sedentárias
Agora arrebatado e empreendedor
ingénuo como um jovem mas depois iniciado
e requintado e até calculador
olhar sentir cheirar e tactear
diversamente cada uma das mulheres
na sua irredutível singularidade
As noites já começam a ser frescas
será pelos começos do outono
o vento do outono é agora húmido
há um silêncio até ao fim do mundo
às vezes quando falas tudo neva sobre
as folhas longo tempo revestindo
as árvores durante o dilatado outono
somente agora verdadeiramente moribundo
com as primeiras neves do inverno
demónio de demência e desespero
estranha companheira dos meus dias
E a solenidade das noites do inverno
descia no meu corpo solitário e nu quando me
sentia longe das habitações humanas
da casa acolhedora ao cimo do inverno
A fome murmurava no meu corpo
O meu desejo ardente de salvar-me de
cantar os velhos salmos no altar do mundo
ameaçado mísero e pequeno um
círculo rodeando o coração
desânimo da morte amargurada
debaixo da folhagem já apodrecida
através das diversas estações
de olhos divididos por florestas
de narinas abertas pra balsâmicas violetas
bebendo as montanhas e as nuvens
e a quente intimidade sobre a terra
Acordaram-me os ramos de um salgueiro
os dias das imagens transbordantes
Na embriaguez vasta dos espaços
na solidão desértica da alma
o meu amor profundo pela arte
o meu ódio selvagem contra mim
Nós mudamos de heróis e pouco mais
só eu mais maduro e seguro de talento
não tenho paz alguma a teu respeito
ó virgem vagarosa e concentrada
de um rosto calmo belo e impassível
ó vida ó minha primitiva mãe
inacessíveis profundezas da lembrança
ó volúpia da noite ó minha morte
e na sua pureza a sua essência
e simplesmente a minha humana mão
o jogo da ambição um simples jogo
Na refrescante primavera primitiva
ternura maternal e melancólica
e logo após o sentimento frágil
naquele êxtase breve e fugitivo
que é inerente ao acto do amor
a solução em sombra dessa face luminosa
que brilha um breve instante numa vida
a solidão desértica do espírito
o símbolo sagrado do amor
O gozo áspero do vasto perigo
modulação suavíssima das faces
não cessará de abrir a flor das minhas mãos
E depois disso a neve logo cobre
aquela boca de fim de verão
como esses frescos peixes prateados
olhos dourados ansiosos fixos
que à morte se abandonam resignados
Hei-de saborear o mundo o seu horror
fealdade beleza e harmonia
ver passar o inverno e o verão
e sentir solidão e alegria
Quando por vezes paro de cantar e vejo
uns deslumbrantes ombros femininos de
gigantescas estrelas nos cabelos
quero sentir-me atado ao respirar da casa
Ver-me sensível para com as estações
irmão somente de inocentes animais
ao sol ao nevoeiro à chuva à neve
ser no meu coração uma criança
viver num mundo sempre renascente
ser consciente desta vida instável
saber que em meio dos espaços infinitos
circula em mim uma porção de sangue quente
sentir em mim a marca da puerilidade vagabunda
familiar da morte a cada passo
E a mãe eterna de olhos de medusa
atravessava o país dos mortos
no canto alegre e grave dos seus passos
Olho a marcha da morte no teu rosto
um frémito ligeiro passa em tua pele
Vi a sonhar a égua da infância
Chegou enfim o tempo do adeus
Oiço a canção efémera das coisas
despeço-me da terra da alegria
já reconheço a música da morte
Severos surdos saem os meus sons
destino humano instável enfim móvel
O seu pequeno pé o seu pescoço branco
reflexo de ouro tão propício ao sono
e música de outono e de abundância
o seu rosto real era recusa
Pelas alturas coloridas do outono canto
a canção inquieta do amor
cabeleira precursora do amor
amor misterioso e perigoso
nada mais do que triste triste apenas
ó mulher loura sorridentemente dou-te
um beijo alto como um sacramento
A despedida súbita do sol
despedida dos dias e estações
crepúsculo propício ao adeus
a esta vida frágil é que aspiro
triunfo sobre a vida fugitiva
ave entregada ao decisivo voo
pensamentos de terna nostalgia
jardim de harmoniosos pensamentos
dou-te de toda a alma o nome da ausente
árvore em flor no bosque fonte no deserto

me despido de la tierra de la alegría
Los pájaros de noche llenaban
los tilos de la soledad
El juicio severo de sus ojos
de mirar donde cabía el pensamiento
la luz y la sombra de una generación
precariamente iluminaban un alma
que ponía la salvación en un sueño profundo
Un brote de castaño descuidado del mediodía
unas ramas lentas y ondulantes
sonreía con sonrisas costeras
en un jardín en flor de mi antojo
Adoro aquella primavera
primera primavera de amistad
Todo era pensar hasta para sí mismo
caminos que no llevan a cualquier
parte conocida o que se ignora
Hermoso país del arte te saludo
las imágenes se levantan por el aire
y un mundo litúrgico solo imaginando repoblar
las sendas de los amantes verdaderos
donde las palabras vienen después
Solo tu mano cerca de mí bajo los ojos
lobos de piedra en cada capitel
Océanos de olvido en la memoria
este país lejano de donde vengo
nube de la vida sobre mi muerte
El tiempo de una mala reputación se apaga
los años de inquietud de espanto de vergüenza
la estrella de mi infancia te levanta de nuevo
tú que eras para mí el sol la luna
deslumbrante mañana de la existencia
País donde lleva mi reclamo
sueños de día sueños de mujer
el gusto de azúcar o de sal
unas miradas de sombra y de misterio
el sentido y el símbolo de las imágenes
Los peces negros y dorados de los recuerdos
los ojos brillantes de los animales desconocidos
flores pequeñísimas en la memoria
relámpago dorado de la mirada
Los olores acres de las cavidades redondas
alguna boca de oro adonde van las palabras
figuras animadas de las visiones
abismo de amenazas en algunos ojos
regiones insondables e inaccesibles
espanto provocado por el crimen
liberación total y armonía
la superficie lúcida de los sueños
los rostros múltiples traídos en un momento
palabras luminosas para mí
Qué dirá de mí el castaño de otoño
la estación de lo que pasa y se deshace
He olvidado mi infancia y no sé nada
Estoy a la sombra y espero al que vendrá
música oscura del mediodía
perfume de campos cabalgados
en la cálida luz en que yo vivía
Alguien llegará de ese bosque distante
donde fracasé en mi juventud
las formas levemente tacteadas por los dedos
No me demoro ni vivo en ningún sitio
ya nada significan las palabras
en este desierto donde velo y estoy despierto
terriblemente solo dentro de la noche. Allí
en el silencio profundo del bosque
tu singular olor de singular mujer
crucifiqué mi juventud
La vida tiene aspectos criminosos como
la subida de una llama silenciosa
en el tallo de la mujer que se desea
No hay retorno en mis pasos
la luna era otra luna de hora en hora
la naturaleza me espera me hace sufrir
troncos incendiados de otoño
después adormecidos en invierno
el aspecto humano de una tierra cultivada
Melodía de la voz que abre corazones
pájaro disparado por los aires
la gratitud que sigue la soledad
todo era bello y bueno
la comida y la paz sabían
a hombres calor infancia y hogar
Ella traía amor en sus manos
Sonreí sufrí la noche era ya negra
el amor es cosa fugitiva débil
donde no caben cosas quietas
Ahora con ímpetu y decidido
ingenuo como un joven después de iniciado
y exquisito y hasta calculador
mirar sentir el olor y tactear
cada una de las mujeres
en su singularidad irreductible
Las noches ya son frescas
será por el inicio del otoño
el viento es ahora húmedo
porta un silencio hasta el fin del mundo
a veces cuando hablas todo nieva sobre
las hojas largo rato cubriendo
los árboles durante el otoño dilatado
solo ahora verdaderamente moribundo
con las primeras nieves de invierno
demonio de demencia y desesperación
extraña compañera de mis días
Y la solemnidad de las noches
en mi cuerpo solitario y desnudo cuando me
siento lejos de las residencias humanas
de la casa acogedora a la cima del invierno
El hambre murmuraba en mi cuerpo
Mi deseo ardiente de salvarme de
cantar los salmos en el altar del mundo
amenazado mísero y pequeño un
círculo rodeando el corazón
desánimo de muerte amargurada
debajo del follaje ya podrido
a través de las estaciones
de ojos divididos por bosques
de narinas abiertas por violetas fragantes
bebiendo montañas y nubes
y la caliente intimidad sobre la tierra
Acepté los ramos de un sauce
los días de imágenes desbordantes
La embriaguez extensa en los espacios
la soledad desértica del alma
mi amor profundo por el arte
el odio salvaje contra mí
Nos mudamos de héroes y poco más
solo más maduro y seguro de talento
no tengo paz alguna tu respeto
oh virgen vaga y absorta
de un rostro calmo bello e imperturbable
oh vida oh mi madre primitiva
inaccesibles profundidades de memoria
voluptuosidad de la noche mi muerte
y en su pureza su esencia
y simplemente mi mano humana
un juego de ambición un simple juego
En la refrescante primavera del origen
la ternura materna y melancólica
y luego la sensación frágil
en aquel éxtasis breve y fugitivo
que es inherente al acto de amar
la solución a sombras de esa cara radiante
que brilla un breve instante en la vida
la soledad desértica del espíritu
el símbolo sagrado del amor
El gozo áspero del peligro
variación suave de los rostros
no cesará de abrirse la flor en mis manos
Y después de eso la nieve pronto cubre
aquella boca del fin del verano
como esos frescos peces plateados
ojos dorados ansiosos firmes
que a la muerte se abandonan con resignación
Saborearé el mundo su horror
la fealdad la belleza la armonía
ver pasar el invierno y el verano
y sentir soledad y felicidad
Cuando a veces paro de cantar y veo
unos deslumbrantes hombros femeninos de
gigantescas estrellas en los cabellos
quiero sentirme atado al respirar de la casa
Verme sensible en las estaciones
hermano de animales inocentes
al sol a la niebla a la lluvia a la nieve
ser en mi corazón un niño
vivir en el mundo siempre renaciente
estar lúcido por esta vida inestable
saber que en medio de los espacios infinitos
circula en mí una porción de sangre caliente
sentir una marca de inocencia vagabunda
familiar de muerte a cada paso
Y mi madre eterna de ojos de medusa
atravesaba el país de los muertos
con el canto alegre y grave de sus pasos
Miro la marcha de la muerte en tu rostro
un ruido ligero pasa en tu piel
Vi soñar la yegua de la niñez
Ha llegado el tiempo del adiós
Oigo la canción efímera de las cosas
me despido de la tierra de la alegría
ya reconozco la música de la muerte
Mis sonidos salen sordos
destino humano inestable en fin móvil
El pie pequeño el cuello blanco
reflejo de oro tan propicio para el sueño
y la música de otoño y la abundancia
su rostro real era rechazado
Por las alturas coloridas de otoño canto
una canción de amor inquieta
mata de pelo precursora del amor
amor extraño y peligroso
nada más que triste triste apenas
mujer rubia sonriente te doy
un beso tan alto como un sacramento
La despedida súbita del sol
despedida de los días y las estaciones
crepúsculo propicio para el adiós
a esta vida frágil es que aspiro
triunfo sobre la vida fugitiva
ave entregada al decisivo vuelo
pensamiento de tierna nostalgia
jardín de pensamiento armoniosos
te doy toda el alma el nombre del ausente
árbol en flor en el bosque en el desierto

Playa de la Consolación, 10/vii/1975

+ Ruy Belo (São João da Ribeira, Rio Maior, Portugal, 27 de febrero de 1933 — Queluz, 8 de agosto de 1978) fue un poeta y ensayista portugués. En 1951 ingresó en la Universidad de Coímbra como alumno de Derecho y se hizo miembro del Opus Dei. En 1956 partió hacia Roma donde se doctoró en Derecho Canónico en la Universidad Gregoriana dos años después. Publicó los libros de poesía Aquele Grande Rio Eufrates (1961), O Problema da Habitação – Alguns Aspectos (1962) y A Margem da Alegria (1974) y, como crítico, Na Senda da Poesia (1969). Fue director literario de la Editorial Aster y jefe de redacción en la revista Rumo.
+ Pablo Sheng (Santiago, 1995) es escritor, fue becario del taller de poesía de la Fundación Neruda, obtuvo el Premio Roberto Bolaño de novela los años 2016 y 2017, publicó Charapo (Cuneta, 2016) y escribe para Revista Santiago.